domingo, 30 de junho de 2013

chocolate quente


A fumaça do chocolate quente na caneca sobe na minha frente, The Rolling Stones toca no rádio. O cachorro pressiona seu focinho na minha perna a procura de caricia. Pela janela escancarada se abre a enorme tempestade que cai forte lá fora, destrói os postes de luz e derruba as arvores. De repente me vejo na escuridão e no silencio. O cão chora. Coloco a caneca amarela na mesa e vou procurar uma vela e fósforos, o cão me segue.
Acendo a vela, e encarando a chama dançante, começo os devaneios. É tão fácil e natural, quando assusto não me dou mais por mim. De repente parece que estou vivendo em 1817: sem energia, tomando algo quente e só tenho livros pra ler. Sorrio. Mas faltavam as roupas, faltava à cavalaria, faltavam os príncipes e os imperadores.
Príncipe: lembra-me você. Mas então vêm as lembranças de você, e o arrependimento sobre pelas minhas veias e remexe as minhas entranhas. Arrependimento de ter se lembrado de você com a palavra príncipe. Você sabe que você é o sapo do todo.
Balançando a cabeça para apagar os pensamentos e ser arrastada de volta a realidade. Mas hoje, hoje está exageradamente demais. Os jorros de pensamento, de irrealidade.
O que tem de errado comigo? Porque penso em tantas vidas, enxergo tantas vidas, imagino e as vivo na minha cabeça? A propósito, você e vários outros estão em muitas delas. Deveria, quem sabe, escrever um livro. Mas seriam muitos os livros, muitas as histórias, e a preguiça, a falta de tempo, esse desatino que não me deixa chegar muito longe com nenhum deles. É uma vergonha, um desapontamento total.
Estou me sentindo hoje como esse texto: bagunçado, sem coerência, viajando por vários lugares e palavras e pensamentos, e uma chuva que desce de uma vez.
Inunda lá fora a chuva, me inunda de pensamentos aqui dentro, não consigo nem organizar minha cabeça, como poderia eu organizar minha vida?
Flutuo no passado, idealizo o futuro e me esqueço do presente. Nem sequer sei se estou fazendo ou vivendo o que quero, ou se estou apenas onde à vida me deixou. Tento pegar as rédeas, mas é impossível, pelo menos por agora, tenho que deixar levar, já não quer mais lutar, já estou tão acomodada que prefiro ficar aqui na angustia e idealizar o futuro e a ler histórias. Sento-me, tomo um gole de chocolate e queimo a boca, acaricio o cão e observo ele se deitar sobre meus pés. Abro um novo livro, e começo uma nova história, para passar o tempo, deixar a vida passar.

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